A fonoaudiologia é uma área da saúde, que ganha cada vez mais destaque, não apenas por seu papel essencial no desenvolvimento da comunicação, mas também em sua atuação vasta e multifacetada, abrangendo uma ampla gama de questões que vão muito além da fala e audição.
Um dos aspectos frequentemente subestimados, mas de extrema importância, são as questões alimentares. A intervenção fonoaudiológica é essencial no tratamento de distúrbios ou transtornos alimentares, como a seletividade alimentar, disfagia e dificuldades de mastigação e deglutição. Estes problemas podem afetar significativamente a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos, e uma fonoaudióloga oferece abordagens especializadas para diagnóstico e tratamento, contribuindo para uma alimentação segura e eficaz.
Existem muitos caminhos e neste artigo, vamos explorar algumas dessas portas de entrada e como elas podem fazer a diferença na saúde e bem-estar das pessoas.
Seletividade alimentar
Essa é uma das portas de entrada pouco faladas, porém é extremamente importante. A seletividade alimentar, caracterizada pela recusa persistente de certos alimentos, é uma área crescente de atuação para nós fonoaudiólogos, especialmente em crianças dentro do espectro do autismo, com alterações de desenvolvimento, e até mesmo, as típicas. A intervenção fonoaudiológica pode ajudar a aprimorar a habilidade motora oral e consequentemente ampliar o repertório alimentar e garantir uma nutrição adequada. Levando sempre em conta que a alimentação é um grande prisma multifacetado, ou seja, temos as questões fonoaudiológicas, sensoriais, orgânicas, nutricionais e comportamentais ligadas ao ato de recusar determinado alimento ou textura.
Desenvolvimento infantil
Uma das portas de entrada mais comuns para a fonoaudiologia é o desenvolvimento infantil. Pais e cuidadores buscam frequentemente a nossa ajuda para lidar com atrasos na fala, dificuldades na linguagem e problemas de audição. A intervenção precoce é crucial para garantir que a criança alcance seu pleno potencial comunicativo. Desde os primeiros meses de vida, o fonoaudiólogo avalia e intervém em aspectos fundamentais como a motricidade oral, a amamentação e a introdução alimentar, ajudando a garantir que o bebê desenvolva habilidades essenciais para o crescimento seguro e adequado. À medida que a criança cresce, o fonoaudiólogo continua a monitorar e a estimular o desenvolvimento da linguagem e da fala, trabalhando com questões como a articulação, a fluência e a compreensão verbal. Além disso, nós podemos intervir em casos de dificuldades de aprendizagem e transtornos de comunicação, utilizando estratégias baseadas em evidências para apoiar o progresso acadêmico e social da criança. Nosso trabalho é, portanto, fundamental para garantir que as crianças alcancem seu potencial máximo e desenvolvam habilidades essenciais para a vida cotidiana e para o sucesso escolar.
Transtornos de aprendizagem
Crianças em idade escolar que enfrentam dificuldades de leitura e escrita, como dislexia, muitas vezes se beneficiam do trabalho com fonoaudiólogos. Nós utilizamos técnicas especializadas para ajudar na aquisição e no desenvolvimento das habilidades linguísticas necessárias para o sucesso acadêmico. A nossa atuação pode ser fundamental para o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem que melhor se adaptem às necessidades individuais de cada criança.
Voz e expressão vocal
Profissionais que dependem da voz para o desempenho de suas funções, como professores, cantores, atores e palestrantes, também costumam procurar a fonoaudiologia para prevenção e tratamento de problemas vocais. A terapia fonoaudiológica pode ajudar a melhorar a qualidade vocal, prevenir lesões nas cordas vocais e tratar condições como nódulos e pólipos. Além disso, o trabalho com a expressão vocal é essencial para a comunicação efetiva em diversas profissões.
Reabilitação auditiva
A perda auditiva é um problema que pode afetar pessoas de todas as idades, e é fundamental que a audição, incluindo o processamento auditivo central (PAC), seja avaliada antes de qualquer intervenção. A reabilitação auditiva é uma importante área de atuação da fonoaudiologia, oferecendo suporte desde o diagnóstico até o ajuste de aparelhos auditivos e a reabilitação propriamente dita. O PAC, que envolve a capacidade do cérebro de processar e interpretar sons, pode influenciar significativamente a compreensão da fala e a percepção auditiva, exigindo uma abordagem específica para melhorar a comunicação. Auxiliamos os indivíduos com perda auditiva e dificuldades no PAC a aprimorar sua capacidade de comunicação e a participar mais plenamente em suas atividades diárias, utilizando estratégias de reabilitação adaptadas às suas necessidades individuais.
Distúrbios neurológicos
Pacientes que sofrem de condições neurológicas, como acidente vascular cerebral (AVC), doença de Parkinson, esclerose múltipla e traumatismo cranioencefálico, muitas vezes necessitam de intervenção fonoaudiológica. Entramos com trabalho na reabilitação da fala, linguagem e deglutição, ajudando os pacientes a recuperar funções essenciais e a melhorar sua qualidade de vida.
Conclusão
Apesar de ser tradicionalmente associada à audição e à fala, a fonoaudiologia vai muito além desses aspectos, desempenhando um papel crucial em diversas áreas da saúde. Desde a intervenção em distúrbios alimentares, como a seletividade alimentar e a disfagia, até o apoio ao desenvolvimento infantil, o tratamento de transtornos de aprendizagem, a melhoria da voz e expressão vocal, a reabilitação auditiva e o cuidado de distúrbios neurológicos. A atuação fonoaudiológica é ampla e vital e essa multiplicidade de enfoques demonstra a importância dessa profissão na promoção da saúde e do bem-estar geral, revelando sua relevância e impacto positivo em várias fases e aspectos da vida dos indivíduos. A fonoaudiologia desempenha um papel crucial em todas as fases da vida, desde o nascimento até a terceira idade, assim, o fonoaudiólogo está presente em todas as etapas da vida, oferecendo suporte contínuo para promover uma comunicação eficaz e uma qualidade de vida melhorada.
Sobre a autora:
Maria Fernanda Cestari de Cesar, formada em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 2014, aprofundou seus conhecimentos ao obter um mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela mesma instituição em 2017. Em 2018, ela especializou-se em Fonoaudiologia Hospitalar no prestigiado Hospital Israelita Albert Einstein.
Aprofundando seu expertise internacionalmente, Maria Fernanda participou de cursos sobre seletividade alimentar infantil ministrados por renomadas especialistas da área, como Suzanne Morris, Marsha Dunn Klein, Kay Toomey e Holly Bridges. Além disso, enriqueceu sua formação com cursos focados em autismo e seletividade alimentar, respaldados por profissionais e plataformas de destaque no cenário acadêmico.
Em 2022, sua competência no tratamento de dificuldades alimentares foi reconhecida com a certificação pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. Sua prática clínica é voltada ao atendimento de crianças e pré-adolescentes, tanto típicos quanto atípicos, enfrentando desafios alimentares.
Como autora, Maria Fernanda contribuiu para a literatura infantil com os livros ‘Francisco não gosta de comer?’ e ‘Miguel e o espectro de oportunidades alimentares’, além de desenvolver o jogo educativo ‘Alimentando Conversas’.
Ela também compartilha sua expertise como docente na pós-graduação do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, no curso voltado ao Transtorno do Espectro do Autismo sob uma abordagem multiprofissional.