Desejo de “impressionar” a pessoa amada com itens de alto potencial de valorização aquece a procura por bolsas de grife
Uma das datas mais importantes para o consumo no calendário brasileiro, o Dia dos Namorados deste ano, comemorado em 12 de junho, será o primeiro após um cenário de transformação global de preços no segmento de moda de luxo. Desde grandes movimentos com novas fusões (Prada comprando a Versace, por exemplo) até as novas políticas protecionistas (EUA taxando importações), a expectativa deste mercado é de que o aumento do valor final de venda de artigos como bolsas favoreça o crescimento da procura por alternativas mais acessíveis. No Brasil, a Front Row, maior reseller de produtos de moda de alto padrão para o público feminino, especializada em bolsas Hermès, joias e relógios, projeta um crescimento de 20% somente na primeira semana de junho, em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2024, a alta em relação a 2023, nesse recorte, foi de 9%.
“Apesar de todo desafio que temos em empreender no Brasil, a economia tem crescido nos últimos anos, o desemprego tem cada vez caído mais, o que impacta no consumo médio do brasileiro e, portanto, na forma como ele compõe sua renda e gastos. No nosso caso, a alta do dólar é outro fator que tem sido muito positivo, pois nossos clientes que normalmente comprariam em shoppings acabam preferindo a comodidade e o custo benefício provenientes da compra online e do second hand”, afirma Lilian Marques, CEO da Front Row.
Ela ressalta que o desejo de presentear a pessoa amada é bastante forte entre quem procura, especialmente, as bolsas de luxo, que se tornaram, além de itens exclusivos, excelentes ativos para investimentos.“Seguindo uma tendência mundial, o consumidor de luxo brasileiro começou a “investir” no lugar de comprar, escolhendo bolsas tal como escolhe ativos, para reserva de valor e acúmulo de capital. Isso porque bolsas e relógios de luxo, por exemplo, continuam a superar outros colecionáveis quando se trata de retornos anuais tanto no mercado interno quanto no interna
cional”, explica.
Em 2024, os modelos de bolsas Mini Kelly, da francesa Hermès, e os relógios Panthère de Cartier foram os principais alvos dos apaixonados que compraram com a Front Row. Para este ano, Lilian Marques sinaliza que as bolsas Birkin, da Hermès, serão o grande sucesso.
“Recentemente, as ações da marca dispararam, tornando-a a grife mais valiosa do mundo, desbancando a gigante LVMH. Isso não apenas aumentou o desejo pelo status que a Hermès carrega, como também reforça o grande potencial para investimentos. Especialmente as bolsas Birkin se destacam como reserva de valor devido à valorização e à baixa volatilidade dos preços”, garante.
Atualmente, a Front Row tem cerca de 4 mil clientes em sua base, com um ticket médio de R$55 mil.
Segundo a MCF Consultoria, a previsão é de que o mercado de luxo no Brasil feche o ano de 2025 com um crescimento de 15% em relação ao ano passado.
‘Exposed’ não afetou as marcas
Em maio, uma série de vídeos publicados por fabricantes de bolsas da China viralizou nas redes sociais. Neles, era mostrado o processo de produção – a baixo custo – de peças que, supostamente, seriam as mesmas vendidas pelas grifes de luxo. Os conteúdos ajudaram a levantar uma discussão intensa sobre o real valor dos produtos desse mercado. A polêmica, porém, não afetou as marcas, segundo Pedro Campos, consultor e executivo de marketing com mais de 15 anos de experiência no Brasil e na Europa. Ele lembra, primeiramente, que grifes como a própria Hermès sequer possuem manufatura na China, sendo toda a cadeia produtiva de suas bolsas realizada na França.
Mas o principal ponto, ele destaca, é que o mercado de luxo é ancorado por alicerces poderosos, como a tradição, a qualidade excepcional e o conceito da exclusividade.
“O luxo carrega tradição, origem e legado, pois as marcas geralmente têm histórias centenárias, savoir-faire artesanal e uma forte conexão com suas raízes. Por exemplo, a Hermès e sua origem equestre, e a Louis Vuitton e sua história com baús de viagem. Já o conceito da Exclusividade dita que o luxo não é, e não deve ser, para todos. É o oposto do consumo massificado. Isso não isenta qualquer marca de reforçar seus atributos na comunicação e manter a confiança construída com o consumidor por décadas, porém, é preciso muito mais do que a revelação do bastidor para desmontar uma estrutura simbólica, principalmente quando essa revelação não é sustentada por tempo suficiente”, avalia Pedro Campos.