Especialista explica como identificar e tratar essa condição pouco conhecida que afeta principalmente mulheres

Quando a gordura localizada na região abdominal persiste, mesmo com dieta e exercícios físicos, é comum que ela seja associada ao sobrepeso ou à falta de atividade física. Mas há casos em que o problema tem outra origem: o lipedema. A condição, caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura, geralmente é mais conhecida por afetar pernas e braços, mas também pode atingir a barriga, causando dor, desconforto e alterações estéticas que comprometem a qualidade de vida.

“O lipedema abdominal é menos falado, mas não é raro. Ele pode surgir de forma isolada ou associada ao acúmulo nas coxas e nos quadris. É uma gordura de origem inflamatória, que resiste às estratégias convencionais de emagrecimento”, explica o cirurgião plástico Dr. Fernando Freitas, especialista em contorno corporal e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

O diagnóstico ainda é um desafio, pois o lipedema pode ser confundido com obesidade ou lipodistrofias comuns. A diferença é que, no lipedema, a gordura acumulada é dolorosa ao toque e tende a piorar com o tempo. Além disso, o paciente pode apresentar sensação de peso, hematomas frequentes e um desproporcional aumento em determinadas áreas, como flancos e abdômen inferior.

Segundo Dr. Fernando, muitas pacientes enfrentam anos de frustração até descobrirem que o problema não está ligado ao estilo de vida, mas a uma condição crônica que pode ser tratada. “O lipedema tem origem multifatorial, com forte componente genético e hormonal. É comum que os sintomas piorem após fases de alteração hormonal intensa, como puberdade, gestação ou menopausa”, afirma.

O tratamento pode envolver mudanças na alimentação, acompanhamento com fisioterapia e uso de meias de compressão. Em casos avançados ou refratários, a cirurgia plástica é uma opção eficaz. “A lipoaspiração específica para lipedema é realizada com técnicas que visam preservar as estruturas linfáticas e reduzir o volume com segurança. O objetivo não é apenas estético, mas funcional, melhorando a dor e a mobilidade da paciente”, esclarece o especialista.

Apesar de ainda ser pouco reconhecido no Brasil, o lipedema já é classificado como doença pela Organização Mundial da Saúde. Para Dr. Fernando Freitas, o maior desafio está na informação. “Muitas mulheres convivem com dor e frustração sem saber que têm uma doença tratável. É fundamental ampliar o debate e treinar profissionais para um diagnóstico preciso”, defende.

A trombose, caracterizada pela formação de coágulos sanguíneos dentro das veias, geralmente nos membros inferiores, é uma das doenças vasculares mais comuns e perigosas quando não tratada a tempo. Pode levar a complicações graves, como a embolia pulmonar, que ocorre quando o coágulo se desloca e atinge os pulmões. Apesar da gravidade, ainda circulam muitas informações equivocadas sobre o tema. Os cirurgiões vasculares Dr. André Américo e Dra. Caroline Ferragut Ricciardelli esclarecem os principais mitos e verdades.

Mito 1: Trombose é fácil de reconhecer

Muitos confundem os sintomas com dores musculares comuns. “Os principais sinais incluem dor, inchaço, sensação de peso e vermelhidão em uma das pernas. O problema é que, muitas vezes, o paciente demora a procurar ajuda achando que é algo passageiro, e isso aumenta os riscos”, alerta a Dra. Caroline Ferragut Ricciardelli.

Verdade 1: Pode acontecer em qualquer idade

Apesar de mais frequente em idosos, jovens também podem desenvolver a doença. “É uma condição multifatorial, que pode atingir desde adolescentes até idosos, principalmente em quem apresenta fatores de risco associados”, explica a Dra. Caroline.

Mito 2: Só acontece em pessoas sedentárias

Embora o sedentarismo aumenta o risco, não é o único fator. “Cirurgias recentes, uso de anticoncepcionais, tabagismo, viagens prolongadas e histórico familiar também elevam significativamente as chances de trombose”, destaca o Dr. André Américo.

Verdade 2: O histórico familiar importa

Ter parentes próximos que já tiveram trombose aumenta a predisposição. Por isso, é importante informar o médico sobre esse dado durante consultas.

Mito 3: Basta usar meias de compressão para estar protegido

As meias de compressão ajudam, mas não garantem proteção total. “O uso deve ser indicado por um médico e, muitas vezes, precisa ser combinado a outras estratégias, como atividade física e até anticoagulantes em situações específicas”, afirma a Dra. Caroline.

Verdade 3: Há prevenção hospitalar eficaz

Em pacientes de risco, especialmente após cirurgias, os protocolos incluem desde meias de compressão até medicamentos anticoagulantes. “Esses cuidados hospitalares são decisivos para evitar complicações”, reforça o Dr. André.

Mito 4: A trombose é rara

Ao contrário do que se imagina, a doença é relativamente comum e muitas vezes subdiagnosticada. “Ainda vemos muitos casos sendo reconhecidos apenas em estágios avançados, quando as complicações já são graves”, ressalta a Dra. Caroline.

Verdade 4: Diagnóstico precoce salva vidas

A identificação rápida dos sinais é determinante. “Quanto mais cedo o paciente busca atendimento, maior a chance de evitar complicações graves, como a embolia pulmonar”, reforça o Dr. André Américo.

Verdade 5: Informação é a maior aliada

“A trombose pode ser evitada em muitos casos. Pequenas mudanças de comportamento, associadas ao acompanhamento médico, fazem toda a diferença”, conclui a Dra. Caroline, que integra o corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, Vila Nova Star e São Luiz do Itaim, em São Paulo.

Tanto para especialistas quanto para pacientes, compreender os mitos e verdades sobre a trombose é essencial. Como reforça o Dr. André Américo, coordenador da Cirurgia Vascular do Hospital Maria Braido, em São Caetano do Sul: “Capacitar equipes médicas e orientar a população é um caminho decisivo para reduzir complicações e salvar vidas”.

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