Juro alto atrai investidores do venture capital para a renda fixa e barateia valuations
A taxa básica de juros nas alturas – 13,75% ao ano – não só encareceu o crédito como também atraiu investidores da renda variável para a renda fixa. O Venture Capital não foge à regra. Por que investir, por exemplo, em uma startup que pode não suportar os efeitos dos juros, da inflação e da queda de consumo, quando é possível manter o dinheiro rendendo em um bom título público até que a tempestade passe? A questão é que ao olharem apenas para os juros, os investidores deixam de observar a outra ponta, que é o valor de mercado desses empreendimentos. Na medida em que o capital fica escasso, como agora, os preços dessas empresas são reavaliados para baixo, o que gera oportunidades de bons retornos.
De acordo com Igor Romeiro, fundador e CEO da Efund Investimentos, quem tem experiência não se limita a olhar apenas a macroeconomia para tomar suas decisões. É preciso avaliar os fundamentos das startups e a lógica de funcionamento do mercado. “No mercado financeiro há uma frase que diz: compre ao som dos canhões, venda ao som de trombetas. É a mesma coisa que dizer compre na baixa e venda na alta. É o que acontece no mercado de ações. Quando um papel se desvaloriza, é o momento de comprá-lo caso a empresa tenha bons fundamentos, porque ele certamente irá se valorizar novamente e gerar lucro. O mesmo acontece com o Venture Capital”, explica.
Romeiro afirma que existem muitas empresas com produtos/serviços e empreendedores bons no Brasil. Muitos deles já olhando para o lucro no final da DRE (Demonstração do Resultado do Exercício). Empreendimentos que já atingiram o break even e que precisam de dinheiro para crescerem e não para pagar dívidas, porém, com valuations atrativos. “Em outras palavras, está barato investir porque não há mais valuations estratosfericamente inflados no mercado”.
O executivo comenta que a corrida para uma fonte mais segura de renda é comum. Normalmente, em momentos de crise os investidores não consideram a alocação de recursos diretamente em startups, através do Venture Capital, por acreditarem que empresas novas estão entre os ativos mais afetados. Não que eles estejam completamente errados. Pela lógica, em momentos como o atual, a renda das pessoas cai, o consumo diminui e isso afeta diretamente o desempenho financeiro dos novos empreendimentos, assim como das companhias já consolidadas.
Logo, investir em uma startup parece ser loucura, pois ela pode não sobreviver ao baque econômico. O modo de analisar, porém, é superficial porque se trata apenas de um olhar geral da situação, sem a devida observação dos detalhes. É como se todas as empresas fossem sentir de maneira igual os efeitos da crise. E com a surpreendente quebra do banco estadunidense SVB (Silicon Valley Bank), o medo aumentou, pois, segundo o canal Bloomberg Línea, várias startups brasileiras possuíam, quando a falência se tornou pública, aproximadamente US$ 10 milhões no SVB, algo em torno de R$ 50 milhões.
“Juros altos trazem redução dos múltiplos que são usados para calcular o valuation dos empreendimentos. Sendo assim, se o investidor tem R$ 1 milhão ele pode ser dono de 10% de uma empresa cujo valor esteja estimado em R$ 10 milhões. Mas, se por causa dos juros altos, esse valuation pode cair para R$ 9 milhões e, com o mesmo milhão, ele poderá adquirir 11,1% da startup.
Quando o furacão passar, os juros baixarem e a empresa aumentar seu faturamento e lucratividade, o investidor terá um retorno maior porque sua participação na composição do capital empresarial também é maior”, explica o CEO da Efund.
Alguns analistas acreditam que o país chegou ao teto dos juros e que a tendência agora é cair. E esta é a razão para o investidor aproveitar o deságio no valor das startups. Como o mercado se movimenta por ciclos, então daqui a alguns anos os juros estarão baixos, o interesse pela renda fixa irá diminuir, enquanto aumenta para o Venture Capital, como ocorreu nos últimos anos. “Quando isso acontecer, os valuations irão começar a aumentar seus múltiplos. Sendo assim, quem entrar agora se beneficiará com ótimas oportunidades de liquidez em breve”, conclui Romeiro.