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Saúde

A dor invisível das mães solo de crianças neuroatípicas

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Quando o amor sustenta o impossível em meio à sobrecarga e à ausência de políticas públicas eficazes

Entre as rotinas clínicas e os relatos de quem vive o cotidiano da parentalidade atípica, há uma figura que, por vezes, se dissolve na invisibilidade do cuidado: a mãe solo. Ela não chega apenas com a criança no colo. Chega com diagnósticos, formulários, laudos, e uma agenda emocional que transborda: medo, culpa, exaustão e amor incondicional.

Este artigo propõe uma análise reflexiva, com base em evidências neurocientíficas e observações clínicas, sobre os efeitos do cuidado isolado em mães solo de crianças neuroatípicas — especialmente aquelas diagnosticadas com transtornos do espectro autista (TEA), transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e deficiências intelectuais.

A neurobiologia da sobrecarga materna

O impacto do estresse crônico sobre o cérebro é amplamente documentado pela literatura científica. A ativação prolongada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), diante de demandas emocionais constantes, eleva os níveis de cortisol e compromete o equilíbrio neuroendócrino. Isso se reflete em distúrbios do sono, alterações cognitivas, fadiga crônica, depressão e vulnerabilidade imunológica.

Mães solo de crianças neurodivergentes frequentemente vivenciam um estado de hipervigilância contínua, caracterizado por tensão muscular, fadiga central e reatividade emocional exacerbada. Trata-se de um perfil neurofisiológico próximo ao de indivíduos expostos a traumas cumulativos — o que, em termos clínicos, já é reconhecido como “trauma relacional complexo”.

Relatos que falam mais que diagnósticos

No contexto clínico, é comum ouvir relatos que expressam com precisão a solidão e a sobrecarga dessas mulheres: “Meu filho tem uma equipe. Eu só tenho a mim mesma”, desabafa uma mãe. Outra confessa: “Não durmo bem há anos. Quando não estou cuidando dele, estou prevendo a próxima crise.” Em uma das falas mais contundentes, uma mãe resume o medo que carrega diariamente: “Meu maior medo não é o transtorno. É o mundo sem mim.”

Essas falas revelam não apenas sofrimento psíquico, mas uma arquitetura emocional marcada por sobrecarga sem redistribuição. A ausência de suporte afetivo, familiar ou institucional torna essas mulheres não apenas cuidadoras primárias, mas estruturas inteiras de sustentação física, emocional e financeira.

O cuidado isolado e a lacuna da corresponsabilidade social

Ainda que políticas públicas avancem no reconhecimento da neurodivergência infantil, observa-se uma insuficiência de dispositivos sistemáticos de apoio às mães cuidadoras — especialmente as que exercem a maternidade sozinhas. Não se trata de omissão direta, mas de um vazio estrutural ainda pouco debatido.

Nesse cenário, mães se tornam pesquisadoras autodidatas, especialistas no diagnóstico dos filhos, intérpretes de linguagem não verbal, organizadoras de múltiplas terapias, articuladoras de direitos e, ao mesmo tempo, responsáveis pelo sustento e pelo afeto.

Como médica pediatra — com formações em Transtornos do Neurodesenvolvimento, Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência, Neurociências e Autismo, e Educação Parental — venho aprendendo, a cada escuta, que o cuidado vai muito além do diagnóstico.

Ao longo dos anos à frente da Clínica Innovare Saúde & Bem-Estar, centro especializado no atendimento a crianças neuroatípicas, testemunho de perto os efeitos dessa sobrecarga emocional silenciosa que recai sobre mães solo.

Aprendi que, antes de qualquer conduta, é preciso escutar — não só a criança, mas o coração de quem cuida.

No consultório, essa dor aparece nas entrelinhas: no olhar cansado, nas pausas longas, nas frases contidas. São mães que adoecem no mesmo ritmo em que lutam pela saúde de seus filhos. Que vivem em alerta constante. Que se doam inteiras — até sumirem de si mesmas.

Elas não pedem ajuda. Mas gritam em silêncio com seus corpos exaustos, suas noites em claro, sua solidão persistente.

São cuidadoras de mundos inteiros. E o mundo ainda não aprendeu a cuidar delas.

Da exaustão à resistência: redes maternas como fator de proteção

Apesar da sobrecarga, há potência. Muitas dessas mulheres se reinventam em líderes, ativistas, escritoras e comunicadoras. Criam redes de apoio, constroem pontes com outras famílias, difundem conhecimento e influenciam políticas públicas. O pertencimento, segundo a neurociência afetiva, é um potente fator de proteção. O vínculo com outras mulheres em situação semelhante reduz os marcadores de estresse, aumenta a sensação de validação e favorece o enfrentamento coletivo.

Essas mães transformam dor em propósito. E o isolamento, em movimento social.

Propostas para um ecossistema de cuidado mais justo

Falar da dor não basta — é necessário propor soluções realistas e integradas. Eis algumas diretrizes baseadas em práticas com eficácia comprovada:

* Promoção de redes comunitárias de apoio;
Grupos de escuta terapêutica gratuita ou subsidiada;
* Reconhecimento da maternidade cuidadora nas relações de trabalho;
• Formação continuada de profissionais da saúde e educação;
• Acesso à informação científica e ferramentas digitais inclusivas.

O desenvolvimento saudável de uma criança depende diretamente da saúde emocional e física de seu cuidador primário. A neurociência já demonstrou que vínculos seguros e ambientes reguladores são cruciais para o amadurecimento cerebral. Portanto, não se pode mais ignorar a saúde de quem sustenta esse vínculo.

Mães solo de crianças neuroatípicas não precisam de mitificação. Precisam de acolhimento, visibilidade, escuta e políticas sensíveis às suas realidades. Precisam que deixemos de vê-las como heroínas incansáveis — e passemos a reconhecê-las como mulheres humanas, complexas e legítimas em seu direito ao cuidado.

Este artigo é, antes de tudo, um tributo. Àquelas que, mesmo cansadas, seguem amando com coragem. E um chamado para que nos tornemos parte ativa da rede que sustenta — e nunca mais da estrutura que pesa.

Dra. Vera Lúcia Oliveira do Nascimento
Médica Pediatra – CRM/CE 16799 | RQE 7237
Pós Graduada em Transtornos do Neurodesenvolvimento, Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência, Neurociências e Autismo e Educação Parental
Fundadora da Clínica Innovare Saúde & Bem-Estar, referência em atendimento pediátrico interdisciplinar e acolhimento a famílias neuroatípicas.

Para conhecer mais sobre o trabalho da especialista, acesse: https://www.draverapediatra.com.br
Instagram: @dravera.pediatra

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Geral

Lucas Pedroza Daniel: da linha de frente à pesquisa — o médico que transforma a urgência em ciência

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Quando o plantão aperta e o relógio corre contra o desfecho, Lucas Pedroza Daniel costuma fazer o que aprendeu na prática: transformar urgência em método. Diretor clínico da UPA Quietude, em Praia Grande (SP), desde 2022, ele liderou em 2025 a implementação do Protocolo de Intoxicação por Metanol — um daqueles documentos que salvam minutos, organizam equipes e, na prática, salvam vidas.

Formado em Medicina em Cuba (2007–2014) e com revalidação pela UNESP em 2017, Lucas escolheu a Medicina de Família e Comunidade como espinha dorsal da carreira, complementando a formação com pós-graduação na área. O interesse pela comunidade começou cedo: ESF em São Miguel do Guamá (PA), depois São Vicente (SP), e a trajetória continua entre prevenção e agudo — das visitas domiciliares às salas vermelhas da urgência. A experiência no SAMU Santos como médico de resgate e regulador (2020–2021) acrescentou a visão de rede e a disciplina do minuto a minuto que hoje marcam sua liderança.

Da rotina nasce ciência
O fio que costura o trabalho de Lucas é a capacidade de converter “o que acontece todo dia” em conhecimento organizado. Entre os corredores da UPA e as reuniões de equipe, ele estruturou projetos que tratam a prática como laboratório vivo: protocolos de intoxicação, propostas de diretrizes para eventos toxicológicos como os relacionados ao fentanil e, sobretudo, a aplicação de inteligência artificial (IA) à Atenção Primária à Saúde (APS) — sempre com o cuidado de discutir ética, governança e aplicabilidade clínica.

Esse compromisso aparece também na docência. Como preceptor de internos (UNAERP) e tutor de TCCs, Lucas faz da UPA e da APS campos de aprendizagem real, onde estudantes experimentam, com supervisão, o ciclo completo: acolher, raciocinar, decidir, registrar e melhorar.

Pesquisa aplicada, com nome e sobrenome
Nos últimos anos, Lucas ampliou a atuação acadêmica como orientador de iniciação científica voluntária (PIVIC/FABRANI), conduzindo dois projetos de 180 horas cada: um sobre IA no suporte à decisão cirúrgica — com foco no pré-operatório, risco cirúrgico e estratificação de pacientes — e outro sobre IA na triagem e predição de doenças crônicas na APS, com ênfase nos desafios éticos e operacionais. São estudos que nascem do chão de fábrica da saúde e retornam à assistência em forma de ferramenta.

Reconhecimento e serviço
A atuação de Lucas combina gestão de serviço público (UPA concursado), prática comunitária e regulação de urgências, com histórico de implantação de protocolos e formação de times. Em paralelo, ele mantém vínculos com entidades de classe e projeta homenagens institucionais locais — sinal de que o trabalho repercute para além da escala do plantão.

Para Lucas, a Medicina de Família é a ponte entre a urgência e a prevenção. É ela que traduz o “pico” do serviço em aprendizagem para o território; que transforma o caso crítico de hoje em protocolo, trilha clínica e educação para amanhã. “O que a gente faz na pressa precisa virar conhecimento — para que, da próxima vez, a pressa encontre um caminho.”  É também a APS que devolve à urgência o contexto do paciente — sua casa, seus vínculos, seus determinantes. Entre um e outro, ele escolheu ser esse elo: o médico que organiza a pressa, compartilha o raciocínio e devolve ciência para a rotina.

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Saúde

Locação de poltronas para pós operatório no ABC Paulista: conforto e segurança para a sua recuperação

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Viver um pós-operatório confortável faz toda a diferença no resultado final da sua recuperação. Pensando nisso, a Conforte-se oferece a solução ideal em locação de poltronas para pós operatório no ABC Paulista, garantindo a você um período de descanso mais seguro, acolhedor e sem esforço.

Seu corpo precisa de descanso. Seu pós-operatório merece cuidado.

As poltronas ergométricas e elétricas da Conforte-se foram desenvolvidas para proporcionar máximo bem-estar durante o repouso. Elas reduzem o esforço ao levantar, ajudam na postura, aliviam dores e facilitam pequenas mudanças de posição — fundamentais para quem passou por cirurgias estéticas, ortopédicas ou procedimentos que exigem recuperação prolongada.

A entrega é rápida e abrange toda a região do ABC Paulista, incluindo Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá, Diadema e Ribeirão Pires.

Tecnologia que apoia. Conforto que acolhe.

Ao optar pela locação de poltronas para pós operatório no ABC Paulista, você conta com:

  • Poltronas elétricas com movimentos suaves
  • Apoio anatômico para corpo, coluna e lombar
  • Ajustes que melhoram a circulação e reduzem inchaço
  • Higienização completa e revisão técnica a cada locação
  • Mais segurança ao sentar, deitar e levantar

Cada detalhe foi pensado para que você tenha uma recuperação muito mais leve e tranquila.

Atendimento humanizado, entrega rápida e suporte total

A Conforte-se entende que o pós-operatório é um momento delicado — e por isso oferece um atendimento carinhoso, eficiente e sempre disponível para ajudar. A equipe instala a poltrona, orienta o uso e garante que tudo esteja perfeito para o seu bem-estar.

Conforte-se: sua recuperação é prioridade

Mais do que equipamentos, a Conforte-se entrega cuidado.

Você descansa. Eles cuidam de todo o resto.

Recupere-se com tranquilidade, segurança e conforto.

Conforte-se com quem cuida de você.

🔵 Acesse agora: Conforte-se ABC Paulista

E tenha o pós-operatório que você merece.

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Saúde

Locação de poltronas para pós operatório em Alphaville SP: o cuidado que sua recuperação merece

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O período pós-operatório exige atenção especial, conforto e um ambiente que favoreça a recuperação. Pensando em quem busca excelência nesse momento delicado, a Conforte-se oferece a melhor opção em locação de poltronas para pós operatório em Alphaville SP, levando comodidade, tecnologia e acolhimento até a sua casa.

O conforto que transforma seu pós-operatório

As poltronas ergométricas e elétricas da Conforte-se foram cuidadosamente projetadas para proporcionar mais segurança, facilidade nos movimentos e alívio nas regiões mais exigidas durante o repouso. Com ajustes suaves e apoio anatômico, elas são ideais para quem passou por cirurgias estéticas, ortopédicas ou procedimentos que requerem períodos mais longos de descanso.

Moradores de Alphaville, Tamboré, Aldeia da Serra e toda região podem contar com entrega rápida e atendimento humanizado — porque você merece uma recuperação tranquila, sem estresse e sem esforço.

Tecnologia que cuida, conforto que abraça

Ao escolher a locação de poltronas para pós operatório em Alphaville SP, você tem acesso a:

  • Poltronas elétricas modernas e silenciosas
  • Ajustes que reduzem dores e facilitam mudanças de posição
  • Apoio especial para coluna, lombar e pernas
  • Segurança ao sentar, levantar e descansar
  • Higienização rigorosa e equipamentos revisados

Cada detalhe foi pensado para que sua única preocupação seja focar na própria recuperação.

Atendimento diferenciado para quem valoriza bem-estar

Com a Conforte-se, você recebe mais do que um equipamento: recebe cuidado, atenção e dedicação. A equipe acompanha cada etapa — da escolha do modelo à instalação em sua casa — garantindo uma experiência acolhedora e segura durante todo o processo.

Conforte-se: seu pós-operatório mais leve e tranquilo

A Conforte-se sabe que o pós-operatório é um momento sensível e por isso se dedica a proporcionar apoio total, conforto e confiança para você ou seu familiar.

Recupere-se com tranquilidade.

Recupere-se com quem entende de cuidado.

Conforte-se com quem cuida de você.

🔵 Acesse agora: Conforte-se Alphaville SP

E viva uma recuperação com qualidade, segurança e bem-estar.

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