As quedas em pessoas com mais de 60 anos deixaram de ser apenas episódios comuns do envelhecimento para se tornarem uma preocupação de saúde pública. Dados recentes do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia mostram que mais de um terço dos brasileiros com 65 anos ou mais sofre ao menos uma queda por ano. Entre os maiores de 80, esse número se aproxima de 40%. Em 2024, o Brasil registrou mais de 344 mil atendimentos hospitalares ou ambulatoriais relacionados a quedas em idosos, com mais de 13 mil mortes associadas ao trauma.
Os efeitos de uma queda nessa faixa etária são profundos. Além do impacto físico, muitas vezes com fraturas graves como as do quadril, há uma série de consequências em cadeia que vão desde a perda da mobilidade até o comprometimento da autonomia, surgimento de quadros depressivos e aumento do risco de mortalidade. A fragilidade óssea, resultante da osteoporose e da sarcopenia, torna os ossos mais suscetíveis a fraturas mesmo em quedas aparentemente leves. Além disso, fatores como desequilíbrio, alterações visuais, uso de medicamentos que afetam a atenção e reflexos, doenças crônicas e até o ambiente doméstico contribuem para esse cenário alarmante.
Entre os casos mais graves, as fraturas de quadril se destacam. Como são fraturas de gravidade considerável é imperativo o tratamento cirúrgico precoce. Esse procedimento cirúrgico substitui total ou parcialmente a articulação comprometida por uma prótese artificial, restaurando a mobilidade do paciente e aliviando dores intensas. Com os avanços tecnológicos, as próteses atuais oferecem maior resistência e durabilidade, permitindo que a maioria dos pacientes usufruam de uma vida plena até o fim das suas vidas.
O médico ortopedista Dr. Inácio Ventura destaca que a agilidade no atendimento faz toda a diferença nesses casos. “Uma queda em alguém com mais de sessenta anos já deve ser encarada como sinal de alerta imediato. Não basta tratar a fratura é preciso intervir rápido, avaliar todas as causas que levaram ao evento, como equilíbrio, visão, uso de remédios, ambiente doméstico. Quanto menor for o tempo entre a queda ou a fratura e a cirurgia, melhor será a recuperação funcional”, explica.
A recomendação da literatura médica é que a cirurgia ocorra idealmente nas primeiras 24 a 48 horas após a fratura, reduzindo o risco de complicações como infecção, trombose, delírios e perda funcional.
Mas a recuperação não depende apenas da cirurgia. O processo exige um plano de reabilitação bem estruturado, envolvendo fisioterapia intensiva para fortalecimento muscular, reeducação da marcha, exercícios de equilíbrio e acompanhamento clínico. Nas primeiras semanas, o uso de andador ou muletas é comum, e o tempo médio para retomada das atividades básicas pode variar entre três e doze semanas, dependendo do perfil do paciente. Dr. Inácio Ventura acrescenta que o sucesso da recuperação está diretamente ligado à adesão do paciente ao processo e ao suporte familiar:
“A cirurgia de prótese de quadril, em casos bem indicados, permite que o idoso volte a andar sem dor, recupere autonomia e reduza complicações de ficar muito tempo imobilizado. Mas a recuperação envolve fisioterapia, suporte familiar, adaptação domiciliar e motivação do paciente”, afirma o especialista.
Ele também ressalta o medo que muitos pacientes têm da cirurgia. “É natural que exista receio, principalmente entre idosos, mas hoje as técnicas são muito mais seguras e extremamente menos invasivas. A anestesia é cuidadosamente planejada, os materiais são mais duráveis e o controle de complicações melhorou muito. Quando bem conduzido, o procedimento muda vidas.”
Para além do tratamento, é preciso discutir prevenção. Adaptações em casa, como eliminação de tapetes soltos, instalação de barras de apoio e iluminação adequada, podem fazer a diferença. Do mesmo modo, programas de atividade física voltados ao público 60+ têm mostrado eficácia não só para prevenir quedas como para acelerar a recuperação em caso de acidentes. A prevenção também passa por diagnóstico precoce de osteoporose, revisão de medicações que afetam o equilíbrio e acompanhamento de doenças crônicas.
Embora a artroplastia seja uma solução eficaz, ela não deve ser vista como única via. É fundamental ampliar o acesso à informação, acelerar os encaminhamentos para cirurgia quando necessário e garantir programas de reabilitação eficientes, especialmente no sistema público de saúde. Para o Dr. Inácio Ventura, cada queda em um idoso deve ser tratada como um marco não apenas no sentido clínico, mas como um alerta de que algo precisa mudar. “A queda é o ponto de virada, mas a recuperação é possível, e merece ser bem planejada e apoiada.”