Psiquiatra explica como diagnóstico e tratamento podem afetar o bem-estar emocional e a importância do cuidado integrado
Outubro é o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, uma das doenças mais comuns entre mulheres em todo o mundo. Além dos efeitos físicos, o diagnóstico e o tratamento podem gerar impactos profundos na saúde mental, exigindo atenção especializada para lidar com ansiedade, depressão, alterações de humor e desafios relacionados à autoestima e à imagem corporal.
“A experiência do câncer de mama vai muito além da intervenção médica. A mulher passa por uma série de mudanças físicas, emocionais e sociais que pode afetar significativamente sua saúde mental. É fundamental que esse cuidado seja integrado, envolvendo oncologia, psiquiatria, psicologia e apoio social”, afirma a psiquiatra Maria Isabel Nestarez, especialista no cuidado das mulheres e em inteligência artificial aplicada à medicina.
O diagnóstico de câncer de mama costuma provocar medo e incerteza. Muitas mulheres relatam ansiedade intensa, preocupação com a própria vida, com a família e com o futuro. O início do tratamento — que pode incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou terapia hormonal — também é fonte de estresse e pode afetar o humor, o sono, a concentração e a energia diária.
Maria Isabel Nestarez explica que a autoestima e a imagem corporal são profundamente impactadas, especialmente em tratamentos que envolvem mastectomia ou alterações físicas visíveis. “O corpo da mulher é fortemente associado à identidade, à feminilidade e à sexualidade. Perder parte desse corpo ou passar por transformações visíveis pode gerar sentimentos de inadequação, tristeza e isolamento”.
Além disso, efeitos colaterais físicos, como fadiga, náuseas, queda de cabelo e alterações hormonais, podem agravar sintomas depressivos e ansiosos. “Muitas mulheres apresentam alterações de humor, crises de choro, insônia e dificuldades de concentração. O impacto psicológico é real e deve ser tratado com a mesma prioridade que o tratamento oncológico”, enfatiza a psiquiatra.
O suporte psicológico é essencial desde o início do diagnóstico. Terapias individuais, grupos de apoio e acompanhamento psiquiátrico podem ajudar na adaptação às mudanças, no manejo da ansiedade e no fortalecimento da resiliência emocional. “O cuidado deve ser contínuo. Não se trata apenas de tratar sintomas, mas de ajudar a mulher a reconstruir sua identidade e a lidar com os desafios emocionais que acompanham a doença”, diz Maria Isabel Nestarez.
Hoje em dia, a tecnologia, incluindo ferramentas de inteligência artificial, pode oferecer suporte adicional. Algoritmos avançados auxiliam no monitoramento de sintomas, na identificação precoce de alterações de humor e no planejamento de intervenções personalizadas, permitindo uma abordagem mais precisa e eficiente. “A inteligência artificial não substitui o acompanhamento humano, mas nos ajuda a entender padrões emocionais e a intervir de forma preventiva, melhorando a qualidade de vida das pacientes”, esclarece a profissional.
Outro ponto importante é a rede de apoio social. Familiares, amigos e grupos de mulheres com experiências similares desempenham papel crucial no enfrentamento do câncer. A participação em grupos de suporte oferece compartilhamento de experiências, acolhimento emocional e redução da sensação de isolamento, fatores que contribuem para o equilíbrio psicológico.
Segundo Maria Isabel Nestarez, também é importante que profissionais de saúde considerem fatores individuais, como história de saúde mental prévia, recursos emocionais, contexto social e estilo de vida, ao planejar intervenções. “Cada mulher reage de forma diferente ao diagnóstico e ao tratamento. Avaliar essas particularidades é essencial para oferecer um cuidado verdadeiramente integral”, pontua.
O Outubro Rosa é uma oportunidade de reforçar que prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficiente são fundamentais, mas que cuidar da mente é igualmente importante. A doença é um desafio físico e emocional, e a mulher merece atenção completa em todas as dimensões da saúde.