Por Victoria Sousa
Por muito tempo, associei a medicina veterinária à estrutura tradicional das clínicas e hospitais. Foi assim que comecei: plantões, emergências, corredores movimentados e uma rotina intensa dentro de consultórios. Mas, com o tempo — e com os próprios pacientes — fui entendendo que nem sempre esse é o melhor caminho. Pelo menos, não o único.
O atendimento domiciliar surgiu na minha vida como uma necessidade prática. Era um pedido aqui, outro ali, geralmente de tutores que não conseguiam levar seus pets até a clínica por conta da idade avançada, do estresse ou de doenças debilitantes. Quando percebi, já estava montando uma estrutura própria para atender esses casos com a atenção e o cuidado que eles exigiam. E hoje, posso afirmar: essa forma de empreender transformou minha relação com os animais, com os tutores e com a profissão.
Atender em casa é mais que deslocar o consultório. É adaptar o olhar, escutar com calma e entender que o animal está no espaço dele — e isso muda tudo. O comportamento é mais natural, o estresse é menor, e o vínculo entre tutor e veterinário se fortalece. Quando um pet está mais tranquilo, conseguimos observar sinais que talvez passassem despercebidos em um ambiente clínico.
Mas esse modelo exige organização. Não é só “pegar a maleta e ir”. Estruturei um negócio que envolve agendamento criterioso, transporte adequado de materiais, protocolos de biossegurança e acompanhamento pós-atendimento. Cada visita tem seu planejamento. Levo comigo equipamentos para avaliações clínicas completas, medicação de suporte, recursos de emergência e, claro, tempo. Porque um dos maiores diferenciais do atendimento domiciliar é poder oferecer uma escuta sem pressa.
Outro ponto que me motivou a investir nesse formato foi o impacto real na saúde e no bem-estar dos animais. Muitos tutores postergam cuidados por medo do estresse que o transporte pode causar. Com o atendimento em casa, essas barreiras diminuem. Já tive casos de cães agressivos na clínica que, em casa, se mostraram dóceis e cooperativos. Ou gatos que só permitiram o exame porque estavam no próprio ambiente, sem o cheiro de outros animais ou ruídos externos.

Claro que há desafios. Não dá para atender todos os tipos de demanda em casa, e é preciso saber quando encaminhar para uma estrutura hospitalar. Mas o que aprendi ao longo desses anos é que o atendimento domiciliar pode — e deve — ser parte ativa do cuidado veterinário, principalmente quando feito com critério, empatia e técnica.
Empreender na veterinária vai muito além de abrir um negócio. É sobre encontrar formas de oferecer cuidado de qualidade respeitando a individualidade de cada animal e a realidade de cada tutor. Hoje, vejo no meu trabalho uma possibilidade concreta de fazer diferente, de aproximar ainda mais o profissional da rotina do animal, e de tornar o cuidado mais acessível, acolhedor e eficiente.
Acredito que esse é um caminho promissor para a profissão como um todo — não como substituição ao modelo tradicional, mas como uma alternativa complementar, mais próxima, mais sensível e, acima de tudo, mais justa.