Apesar de serem altamente preveníveis e tratáveis quando diagnosticados precocemente, os cânceres de cabeça e pescoço ainda são descobertos em estágio avançado em cerca de 80% dos casos, segundo dados do INCA
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil registra em torno de 39 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço por ano, somando tumores de boca, laringe, orofaringe, hipofaringe e nasofaringe. Ainda conforme o INCA, 80% dos casos são diagnosticados exatamente em estágios avançados, o que compromete as taxas de cura e aumenta os riscos de sequelas, como perda da fala e dificuldade para engolir e respirar.
O cirurgião de cabeça e pescoço Bernardo Alves, presidente da Associação Médica de São João del Rei, explica que esse cenário poderia ser revertido evitando os fatores de risco conhecidos. “O câncer de cabeça e pescoço pode ser evitado, pois está associado ao tabagismo, consumo excessivo de álcool e infecção pelo HPV em grande parte dos casos. O paciente, quando está atento aos sinais e sintomas, as chances de cura ultrapassam os 80%”, enfatiza.
Os tumores de cabeça e pescoço englobam uma variedade de cânceres que atinge estruturas como boca, língua, faringe, laringe, seios paranasais, glândulas salivares e tireoide. De acordo com o INCA, esses tipos de câncer representam aproximadamente 5% de todos os tumores malignos no Brasil, com maior incidência em homens a partir dos 40 anos, embora os casos entre mulheres e jovens estejam crescendo, especialmente devido à infecção pelo vírus HPV.
Fatores de risco e prevenção
Os principais fatores de risco estão relacionados a hábitos de vida prejudiciais à saúde, sendo o tabagismo e o consumo excessivo de álcool os mais significativos. Quando combinados, esses dois fatores potencializam o risco de desenvolvimento da doença. Além disso, o papilomavírus humano (HPV), transmitido principalmente por via sexual, tem sido associado ao aumento dos casos de câncer de orofaringe, especialmente entre pessoas mais jovens.
Sintomas: atenção aos sinais do corpo
Um dos grandes desafios do câncer de cabeça e pescoço é o diagnóstico tardio, uma vez que os sintomas costumam ser sutis nas fases iniciais e muitas vezes confundidos com condições benignas. Entre os sinais de alerta estão:
– Feridas na boca ou na língua que não cicatrizam;
– Dor persistente na garganta;
– Dificuldade ou dor ao engolir;
– Rouquidão por mais de duas semanas;
– Nódulos ou inchaços no pescoço;
– Alterações na voz;
– Perda de peso de causa inexplicada.
A recomendação dos especialistas é procurar um médico, otorrinolaringologista ou cirurgião de cabeça e pescoço ao perceber qualquer um desses sintomas por mais de 15 dias. “O diagnóstico precoce é essencial para aumentar as chances de cura e preservar funções importantes, como a fala, a deglutição e a respiração”, alerta Bernardo Alves.
Tratamentos e cirurgia: o que esperar após o diagnóstico
O tratamento do câncer de cabeça e pescoço depende da localização, do tipo e da extensão do tumor, além do estado geral de saúde do paciente. As abordagens mais comuns envolvem cirurgia, radioterapia, quimioterapia e imunoterapia, que podem ser utilizadas de forma isolada ou combinada, conforme a necessidade de cada caso.
“Em muitos tumores localizados e operáveis, a cirurgia é o primeiro passo do tratamento, com o objetivo de remover completamente a lesão. Graças aos avanços da medicina, os procedimentos cirúrgicos estão cada vez mais precisos e menos mutilantes, preservando ao máximo as estruturas envolvidas e a qualidade de vida do paciente”, afirma o especialista.
A radioterapia é frequentemente utilizada após a cirurgia ou em casos em que a cirurgia não é viável, enquanto a quimioterapia e a imunoterapia são indicadas para casos mais avançados ou metastáticos. A imunoterapia, em especial, representa um avanço importante no tratamento de alguns tipos de tumores de cabeça e pescoço, ao estimular o próprio sistema imunológico a combater as células cancerígenas.
O papel da informação e da prevenção
A campanha Julho Verde reforça a necessidade de educação em saúde e acesso ao diagnóstico precoce, que podem reduzir significativamente a mortalidade associada a esses tipos de câncer.
“Ações simples como parar de fumar, reduzir o consumo de álcool, usar preservativos, vacinar-se contra o HPV e consultar regularmente dentistas e médicos podem fazer toda a diferença na prevenção da doença. Exames clínicos periódicos e atenção aos sinais do corpo são atitudes fundamentais para detectar precocemente possíveis alterações”, conclui Bernardo Alves.