No Brasil, fábrica em Taubaté aguarda os desdobramentos do anúncio da empresa sul-coreana
A LG chegou a ser, em algum momento da história dos celulares, a primeira marca global em vendas de aparelhos, em disputa com outra empresa famosa de handsets que desapareceu neste competitivo mercado, a Nokia. Desde que os celulares despontaram como itens de consumo populares, o ranking das marcas se alterna entre produtores conhecidos (caso da Motorola, que dominou os primórdios dos terminais) a players chineses que, pelo apelo do baixo preço e funcionalidades oferecidas, devem avançar na fatia deixada pela sul-coreana LG. Outras globais saíram de cena nesses mais de 30 anos de telefonia móvel no Brasil (o Rio de Janeiro foi o pioneiro do sistema, em 1990): a francesa Alcatel, a sueca Ericsson, a japonesa Sony (que se uniu à joint Sony-Ericsson depois e também fracassou), a alemã Siemens, o americano BlackBerry e outras com menor expressão.
Em 2007, a Apple revolucionou de forma irreversível o mercado de celulares ao lançar o iPhone (que chegaria ao Brasil apenas na 3ª. versão, em 2008). Esse foi, talvez, o fato que causou maior impacto no setor e derrubou a então número 1, a finlandesa Nokia, e a norte-americana Motorola. O celular pensado por Steve Jobs acabou com várias indústrias com seu formato que oferecia música (pelo então iTunes), estética, atratividade e facilidade de manuseio.
Com a chegada da Apple ao setor, houve a movimentação de players globais e surgiram no cenário mundial as coreanas Samsung e LG. Por anos, Apple, ambas as coreanas, Motorola e Nokia dominaram o ranking das top marcas. Esse cenário começou a mudar com a entrada das chinesas Oppo, Xiaomi e Huawei, além de incontáveis outras com menor alcance. No País, segundo estimativa da IDC Brasil, quatro marcas detêm 90% do mercado: Samsung, Motorola, LG e Apple. Estima-se que a LG vende 4,5 milhões de celulares anualmente, o que dá cerca de 12% de market share no Brasil.
Espaço disputado
Com o anúncio do encerramento da operação global de produção de celulares, o mercado brasileiro deve abrir espaço para o aumento da participação de Samsung, Motorola e Apple e, ainda, para marcas mais novas como a Huawei e Xiaomi. Segundo comunicado oficial da LG sul-coreana, a decisão (de encerrar a divisão móvel) foi aprovada por seu conselho de diretores no início desta segunda-feira, 5. “A decisão estratégica da LG de sair do setor de telefonia móvel incrivelmente competitivo permitirá à empresa concentrar recursos em áreas de crescimento, como componentes de veículos elétricos, dispositivos conectados, casas inteligentes, robótica, inteligência artificial e soluções B2B, bem como plataformas e serviços”, diz o comunicado. A empresa acrescenta que “o estoque atual de telefones LG continuará disponível para venda. A LG fornecerá suporte de serviço e atualizações de software para clientes de produtos móveis existentes por um período que varia de acordo com a região. A LG trabalhará em colaboração com fornecedores e parceiros de negócios durante o encerramento do negócio de telefonia móvel. Os detalhes relacionados à empregabilidade serão determinados em nível local”, ou seja, o destino da fábrica de aparelhos em Taubaté, interior de SP, ainda é uma incógnita. O processo deve ser finalizado até o segundo semestre, conforme a LG: “espera-se que a desaceleração do negócio de telefonia móvel seja concluída até 31 de julho, embora o estoque de alguns modelos existentes ainda possa estar disponível depois dessa data”. Leia mais sobre os motivos da LG nessa análise do articulista de ProXXIma, Pyr Marcondes, sobre a saída da marca do mercado de aparelhos.
Estima-se que LG tinha uma fatia de apenas 2% do mercado de smartphones ao redor do mundo no ano passado. Ainda em 2020, a LG anunciou prejuízo de US$ 750,6 milhões na divisão móvel. Em 2019, as perdas foram de US$ 858,3 milhões, enquanto no ano anterior foram US$ 700,6 milhões no negativo.
Em fevereiro deste ano, já circulavam rumores sobre a potencial venda ou encerramento da produção de celulares da LG. O jornal The Korea Times havia noticiado as negociações para a venda da divisão. Como não obteve interessados na compra, a LG decidiu encerrar sua história como fabricante de celulares. E, claro, o prejuízo consecutivo com a unidade.