Por Moisés Rosa, especialista em automação e segurança no transporte rodoviário.
Durante muito tempo, quando se falava em rastreamento de caminhões, pensava-se apenas em saber onde o veículo está. Hoje, essa visão está ultrapassada. Em um setor onde os riscos operacionais são altos e os custos de erro podem ser milionários, o rastreamento deixou de ser um mapa e passou a ser o cérebro da operação logística.
A tecnologia evoluiu — e quem trabalha com transporte precisa acompanhar. O rastreamento moderno não serve só para localizar. Ele atua na prevenção de roubos, na gestão da jornada de trabalho dos motoristas, no controle de segurança da carga e até na resposta a emergências médicas ou mecânicas.
Falo isso com base na minha experiência prática, desenvolvendo sistemas aplicados em campo, como os que implementei na Budel Transportes. Quando criamos um aplicativo interno capaz de rastrear o veículo, controlar o tempo de direção e até bloquear o caminhão em casos críticos, vimos uma transformação real: zeramos os roubos de cavalo mecânico e reduzimos drasticamente os acidentes por cansaço.
Esses resultados só foram possíveis porque deixamos de usar o rastreamento como ferramenta passiva. Ele passou a ser ativo, inteligente e integrado à tomada de decisão.
Um exemplo claro disso foi o desenvolvimento da trava eletrônica da quinta roda. A partir do rastreamento em tempo real, conseguimos controlar remotamente o engate do caminhão, impedindo o desengate não autorizado da carreta. Isso inviabilizou a ação de criminosos — não por sorte, mas por engenharia e controle.
Outro benefício direto é a automação do controle de jornada, fundamental em um setor pressionado por prazos e produtividade. O rastreamento conectado ao sistema de gestão permite saber quanto tempo o motorista está dirigindo, quando precisa parar e por quanto tempo deve descansar. Isso reduz riscos legais, evita multas e protege a saúde do condutor.
Mas apesar de tudo isso estar disponível, muita empresa ainda insiste em soluções ultrapassadas. Algumas usam rastreadores apenas para localizar o caminhão quando há um problema, sem qualquer ação preventiva. Outras nem isso: operam no escuro, confiando apenas na experiência dos motoristas.
É preciso mudar essa lógica. Tecnologia não é um custo — é um investimento em controle, eficiência e segurança.

O transporte rodoviário brasileiro enfrenta desafios sérios, desde furtos de carga até tombamentos por fadiga. Mas também tem à disposição ferramentas robustas, acessíveis e aplicáveis. O problema, muitas vezes, não está na falta de recurso, e sim na falta de visão estratégica para aplicá-lo com inteligência.
O rastreamento deixou de ser uma função do GPS. Hoje, ele é uma plataforma de gestão completa — e quem entende isso sai na frente. No cenário atual, não é mais sobre saber onde o caminhão está. É sobre saber como ele está, quem está com ele, quanto tempo pode continuar rodando e como agir rapidamente diante de qualquer risco.
Esse é o rastreamento que faz a diferença. E é para esse nível de controle que o setor precisa caminhar.