Introdução
Em Foz do Iguaçu (PR), a psicopedagoga, autora e pesquisadora Mariane Brandão transformou a prática clínica em um serviço com método, métricas e parcerias — sem renunciar à ética e da proteção às crianças. Nesta conversa, ela explica como saiu do “atender todo mundo” para um posicionamento claro, precificação defensável e operação enxuta. Fala também do trabalho com altas habilidades/superdotação (AH/SD) e deixa um roteiro de 30 dias para quem quer “virar a chave”.
- Por onde começar quando a motivação é vocação, mas o objetivo é sustentar-se?
Mariane Brandão: Começa por clareza de proposta. Defino para quem trabalho, qual problema resolvo e qual transformação entrego. Psicopedagogia não é “reforço turbinado”; é avaliação, intervenção e acompanhamento com método. Escolhi nichos executáveis — dificuldades específicas de aprendizagem e AH/SD — e passei a oferecer serviços com começo, meio e fim. Isso organiza o trabalho e dá previsibilidade para as famílias e para o meu fluxo de caixa.
- Quais serviços estruturam a sua oferta?
Mariane: Serviço estruturado em três pilares:
- Avaliação inicial — anamnese, aplicação de instrumentos e devolutiva com plano.
- Intervenção em pacotes (8–12 encontros) — estabelecimento de metas mensuráveis e rotinas de estudo/autorregulação.
- Acompanhamento (manutenção mensal) — orientação para família ou escolas.
Pacotes evitam sessões avulsas, garantem previsibilidade e melhores resultados.
- Como precificar com critério — e defender esse preço?
Mariane: Sendo prática, podemos pensar nos indicadores, precificação baseada em complexidade, tempo, benchmark local e valor percebido. A avaliação tem ticket maior por incluir instrumentos e relatório. Intervenção é por pacote; manutenção é assinatura recorrente. Formalização do escopo, exclusões e critérios de progresso por escrito. Transparência na precificação reduz conflitos e alinha expectativas.
- Que métricas mostram um consultório saudável?
Mariane: conversão avaliação→plano, aderência às sessões, tempo médio para atingir metas por protocolo, NPS de famílias/escolas e receita recorrente. No marketing, acompanho agendamentos vindos da página e taxa de resposta às mensagens. Se alguma cai, reviso mensagem, oferta e canal — nessa ordem.
- Onde vêm os clientes sem gastar demais em anúncios?
Mariane: Parcerias de valor. Em escolas, faço palestras breves para famílias, formação objetiva para docentes e organizo fluxo de encaminhamento com devolutivas. Em saúde, trabalho com pediatras, neuro, fono e psicologia em protocolo de mão dupla (triagem rápida, relatórios objetivos). Na comunidade, ofereço oficinas (organização de estudos, rotina de leitura). No digital, foco em conteúdo útil: checklists, guias, pequenos tutoriais. Não é sobre postar muito, é sobre resolver problemas reais.
- O que funciona na comunicação — e o que evitar?
Mariane: Funciona educar e convidar. Uma página única clara (quem ajudo, como funciona, perguntas frequentes, agendamento, credenciais) e conteúdo prático. Evito exposição de crianças, “antes/depois” identificável e promessas de cura. Meus estudos de caso são anonimizados e sempre com consentimento. Ética vem antes do alcance.
- Como organizar a operação para não virar refém da agenda?
Mariane: Padrões e calendário. Uso templates (anamnese, devolutiva, relatório), roteiros de sessão por objetivo e bloqueios na agenda (atendimento, estudo, gestão, conteúdo). Trabalho em sprints quinzenais: metas pequenas, revisão rápida. Esse básico bem-feito garante qualidade quando a demanda sobe.
- Quais erros você vê em quem está começando?
Mariane: Três recorrentes:
- Atender todo mundo — dilui autoridade e encarece aquisição.
- Comunicação vaga — “atendo crianças” não comunica valor; detalhe problemas e resultados.
- Sessão avulsa sem plano — compromete desfecho e previsibilidade.

- Em quanto tempo dá para sentir estabilidade financeira?
Mariane: Depende, mas vejo marcos: 0–90 dias para validar nicho e fechar primeiros pacotes; 90–180 dias para parcerias que geram indicações recorrentes; 180–360 dias para reputação local e linhas complementares. O segredo é consistência e revisão contínua.
- Dá para escalar financeiramente sem perder qualidade? Como?
Mariane: Sim, com camadas de entrega:
- Atendimento premium comigo nos casos complexos.
- Grupos com roteiros fechados (organização de estudos, autorregulação, famílias).
- B2B educacional: formação de docentes, implantação de protocolos, consultoria para redes.
Escala não é atender mais por dia; é aumentar o impacto por hora mantendo as métricas de resultado.
- Quanto a atuação com Altas Habilidades e Superdotação, por onde ir sem rótulos fáceis?
Mariane: Primeiro, conceito correto: AH/SD não é “apenas talento”; é desempenho ou potencial muito acima da média com necessidades educacionais específicas. O percurso inclui identificação responsável (instrumentos + observação), trilhas de enriquecimento (inclusive aceleração parcial quando indicado), avaliação formativa e formação de professores. A comunicação deve ser técnica e sem rótulos — isso protege a criança e a reputação do serviço.
Foi um prazer conversar com você. Para encerrar, sua filosofia de trabalho, em uma linha?
Mariane: O prazer foi meu! É muito difícil definir apenas em uma frase, mas eu creio que, escolher um problema, aplicar método com evidência e medir resultados. Equilibrar ciência, ética e governança profissional é o caminho para resultados duradouros.