Setor avança em tecnologia, eficiência operacional e novos formatos de atendimento em meio a custos elevados e mudanças de comportamento
O setor de alimentação vive uma fase de transformação profunda, marcada pela adoção acelerada de tecnologia, pela revisão de processos internos e por novas expectativas do consumidor. Estimativas da consultoria Technomic indicam que a indústria global de foodservice movimentou cerca de 3,6 trilhões de dólares em 2023, ultrapassando os níveis de 2019 e consolidando a recuperação pós-pandemia. Outros levantamentos, como os da Fortune Business Insights e de grupos de pesquisa independentes, projetam expansão adicional até a próxima década, com o mercado global devendo crescer de forma contínua a partir de 2024.
Esse avanço tem impulsionado investimentos em tecnologias voltadas à gestão, ao atendimento e à experiência do cliente. Totens de autoatendimento, cardápios digitais, aplicativos próprios, integrações com plataformas de entrega e sistemas de gerenciamento de cozinha tornaram-se parte da rotina de diversas operações. Ao automatizar etapas antes manuais, esses recursos permitem reduzir erros, aumentar a velocidade de atendimento e acompanhar indicadores de desempenho em tempo real.
A transformação também altera o mercado de trabalho. De acordo com o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, as ocupações ligadas a serviços de alimentação devem crescer em cerca de meio milhão de postos entre 2022 e 2032, em linha com o aumento da demanda por refeições fora do lar e por soluções de conveniência em escolas, empresas e outros serviços. Ao mesmo tempo, o setor segue pressionado por dificuldades de recrutamento e rotatividade elevada, o que exige novas estratégias de formação e retenção de equipes.
Outro desafio central é o desperdício de alimentos. O Índice de Desperdício Alimentar das Nações Unidas aponta que, em 2022, cerca de 1,05 bilhão de toneladas de alimentos foram descartadas no mundo, sendo 28 por cento desse total atribuídos a serviços de alimentação, como restaurantes, hotéis e outros estabelecimentos do setor. A combinação entre custo elevado de insumos e descarte significativo pressiona margens e estimula a adoção de práticas de controle mais rigorosas, como revisão de porcionamento, monitoramento de sobras e uso de sistemas que integram compras, estoque e produção.
No lado do consumidor, a expectativa por jornadas mais fluidas e integradas também cresce. Estudos sobre experiência omnicanal indicam que clientes tendem a abandonar marcas quando percebem inconsistência entre canais digitais e atendimento presencial, especialmente em setores de varejo e serviços que dependem de conveniência e rapidez. No foodservice, isso se traduz em exigência por processos mais estáveis: o consumidor espera que o pedido feito por aplicativo, totem ou balcão resulte em uma entrega padronizada, com prazos previsíveis e comunicação clara.

Especialistas do setor apontam que as inovações que ganham força se concentram em três frentes principais. A primeira é a digitalização da gestão, com uso de dados para prever demanda, ajustar compras e reduzir perdas. Sistemas que cruzam histórico de vendas, sazonalidade e campanhas permitem ajustar a produção, diminuir desperdício e organizar melhor a escala de trabalho.
A segunda frente é a padronização técnica, apoiada por tecnologia, mas dependente de formação prática. Mesmo com sistemas sofisticados, etapas como preparo, cocção, armazenamento e atendimento continuam dependendo de equipes treinadas e de rotinas bem definidas. A adoção de manuais operacionais, treinamentos frequentes e procedimentos de segurança alimentar torna-se fator decisivo para garantir qualidade e consistência.
A terceira é a integração entre canais físicos e digitais. Operações que combinam salão, retirada no local, delivery próprio e parcerias com plataformas terceirizadas buscam construir jornadas mais coerentes, nas quais o cliente encontra informações alinhadas, cardápios atualizados e opções semelhantes, independentemente do ponto de contato escolhido.
Para negócios de diferentes portes, as tendências apontam para um conjunto de recomendações práticas: acompanhar indicadores de desempenho de forma sistemática, revisar fluxos internos com foco em produtividade e desperdício, integrar ferramentas digitais à operação diária e investir continuamente na qualificação das equipes. Em um cenário de custos elevados e consumidores mais exigentes, a capacidade de usar inovação de forma estruturada tende a separar as empresas que apenas reagem das que conseguem se antecipar às mudanças do setor de alimentação.