Qual o tempo ideal para o sexo? Quando é considerado ejaculação precoce? Como tratar esse tabu? Essas são algumas das muitas perguntas sobre o assunto e que você vai conferir aqui nesse bate-papo.
Sendo feito com proteção e consentimento, o sexo só traz benefícios à saúde fisica e mental. E tanto uma relação demorada ou rápida pode ser prazerosa para ambos os parceiros. Mas será que existe um tempo ideal para uma transa? E quando é caracterizada ejaculação precoce?
De acordo com o médico e terapeuta sexual João Borzino, a duração da relação sexual pode variar bastante entre os casais e depende de vários fatores, como a intimidade, a experiência e as preferências pessoais.
“Em média, estudos sugerem que a relação sexual costuma durar entre 5 a 30 minutos. No entanto, o mais importante é que ambos os parceiros estejam satisfeitos com a experiência, independentemente da duração.
Detalhe importante: homens tendem a ser como “fogão a gás”; acende rápido, fica em fogo alto e apaga facilmente. Mulheres são “fogão à lenha”; demoram a acender, é difícil pegar chama, mas dura mais para apagar. Em outras palavras, homens se excitam com mais facilidade pois são muito visuais e “carnais”, enquanto as mulheres tem de ser mais seduzidas pela admiração, são mais auditivas e bem menos genitalizadas. O corpo todo é fonte de prazer para uma mulher”, explica.
E dar “uma rapidinha” pode ser uma condição situacional, prazerosa e de momento. De acordo com o especialista é muito diferente do indivíduo que não consegue ter prazer pois já está na iminência desesperadora do orgasmo desde que se sente excitado. “É um sofrimento e desgaste muito grande, pois existem casos que o homem já ejacula no beijo. Depois não consegue mais se excitar ou, quando se excita o descontrole é iminente de qualquer maneira. A hora do sexo vira um pesadelo angustiante”.
O médico afirma que existem casos de ejaculação precoce onde não há queixas, pois ambos os parceiros chegam ao orgasmo rapidamente e ficam satisfeitos com a relação. “Isso é bastante incomum, mas acontece. Nesses casos, o homem geralmente não sofre da sensação desconfortante do orgasmo iminente ( precoce), durante as preliminares. Por sinal, o que é muito comum: homens com ejaculação precoce só apresentarem o problema na penetração e não nas “brincadeirinhas” preliminares como sexo oral, masturbação, “pinceladas” e etc. Tal apresentação faz com que muitos optem por ficar só nisso, sem partir para a penetração, mas quando é assim, já é sinal de grande sofrimento e desgaste com a ER”.
João Borzino diz que a ejaculação precoce ( ou Ejaculação rápida – ER) é um problema comum que afeta muitos homens em diferentes fases da vida. “Estima-se que a incidência variem entre 20% a 30% da população masculina, mas alguns estudos apontam que esse número pode ser ainda maior, dependendo da definição e dos critérios utilizados para avaliar a condição.
É uma condição em que um homem ejacula mais rapidamente do que ele ou sua /seu parceira/o gostaria durante a relação sexual. Isso causa estresse e insatisfação em um relacionamento, mas é uma situação comum. As causas podem incluir fatores emocionais, psicológicos ou físicos, sendo as causas físicas ainda uma hipótese não bem estabelecida e provavelmente relacionada àqueles que eram normais e passam a apresentar descontrole ejaculatório em algum momento da vida ( ejaculação rápida secundária)”.
O terapeuta sexual diz que a imensa maioria é fruto da ansiedade de mau desempenho associada ao estado de excitação. “A maioria é primária, ou seja, vem desde a primeira relação sexual”.
Ele afirma que é importante ressaltar que esse fato comprova a característica psicossomática do quadro:
“Falta de educação sexual efetiva: ninguém nasceu sabendo fazer sexo e isso é um problema pois a realidade vivida em nossa sociedade gera uma expectativa angustiante de que o homem imaturo sexualmente vai se comportar como um já experiente e maduro. Resultado: trauma”
“Mito da Virilidade”: os adolescentes continuam sendo levados por amigos ou parentes, contra a sua verdadeira vontade ou devido momento, a situações de “primeira vez” com garotas de programa ou parceiras meramente desconhecidas . Aqui , claramente fica dissociada a questão da afetividade e intimidade. Resultado: ansiedade no desempenho por medo, constrangimento e vergonha”.
“Ilusão do controle: depois de percebido o problema, o indivíduo começa a tentar “malabarismos” no momento sexual como prolongar as preliminares, evitar posições mais instigantes, pouca penetração e tentativa de continuar a penetração mesmo após o orgasmo ( ejaculação)”.
“Alcoolismo: muito comum o uso de álcool na tentativa de retardar a ejaculação, levando ao alcoolismo, depressão e exposição à condições perigosas ( para contrair ou transmitir doenças, gravidez indesejada e golpes como “boa noite cinderela”)”.
“Isolamento social e depressão: o indivíduo passa a evitar situações sociais por se sentir incapaz , impotente diante de todo um grupo de pares que “estão felizes e contentes com suas vidas sexuais”. Sente-se excluído, triste, frustrado e assim deixa as interações sociais de lado. Condição depressiva ou no mínimo melancólica”.
“Silêncio: notadamente o indivíduo sofre sozinho, pois não vislumbra com quem falar, desabafar ou realmente procurar ajuda. ‘Homens não falam sobre falhas sexuais com ninguém”.
“Descaso dos profissionais de saúde: infelizmente há pouco ou nenhum preparo por parte dos colegas médicos que não sabem dar o devido aporte e encaminhamento dos pacientes que os procuram com queixa de ER. Na maioria das vezes os urologistas ( mais procurados pelos sofredores de ER), dão uma dimensão pouco acolhedora e soluções paliativas como uso de antidepressivos, pomadas anestésicas e até medicações para ereção. Quando melhores orientados, encaminham para algum profissional de psicologia sem a devida formação e experiência em tratar”
“Prejuízo econômico/financeiro: na busca de uma solução, a maioria cai nas garras das propagandas enganosas vendidas em todos os tipos de mídia: suplementos milagrosos, clínicas com soluções imediatas, e-books com o segredo da solução, pomadas e tônicos retardantes. Assim, esses homens gastam fortunas com métodos inescrupulosos. Resultado: tristeza, dívidas e frustração com a possibilidade da verdadeira cura”.
“Associação com Disfunção erétil e baixa libido: com o tempo, a ansiedade/frustração/medo/ isolamento faz com que muitos passem a ter tanta insegurança com o contexto sexual, que passam a perder a ereção. Isso é tão comum, que muitos chegam a mim como primeira queixa ser disfunção erétil, e quando vou pesquisar a história, tudo se inicia com ER”.
O médico diz que ejaculação rápida não é doença, é uma manifestação física da ansiedade sexual misturada com excitação.
“Resolver é primeiro psicoeducar e depois aplicar técnicas dessensibilizatórias para que o indivíduo não “queime na largada”. O programa de terapia cognitivo comportamental é o que resolve. É um método gradual, mais caro e que depende muito de um profissional altamente habilitado ( psicoterapeuta sexual), e do alto grau de consciência do paciente. Isso não é fácil nos dias de hoje, pois a maioria não quer lidar com o autoconhecimento, psicoeducação e modulação afetiva. Acabam comprando os tratamentos enganosos, que dominam o mercado”, destaca.
Borzino afirma que, após 22 anos fazendo apenas isso, tendo dezenas de milhares de pacientes atendidos, pode dizer: ainda é muito difícil tratar pois é quase impossível conscientizar. “A concorrência desleal com a indústria que se nutre do adoecimento da sexualidade é de fato o pior dificultador.
Hoje entendo perfeitamente o estado de cansaço e desesperança no tratamento que vejo nos pacientes que finalmente chegam até mim. É natural que depois de passarem por tantos enganos e prejuízos emocionais e econômicos, cheguem descrentes e desconfiados de tudo”.
“Apenas 33% dos pacientes que trato continuam até o final e assim obtém o sucesso e trabalho com afinco para essa média aumentar. Oitenta por cento do tratamento depende do paciente. Luto diariamente ao lado de quem vem a mim, pois sei que posso ajudar e não vou desistir mesmo que muitos desistam do tratamento. É a realidade: trabalho com mudança de consciência e hábitos, e assim é. A verdadeira dica é: ejaculação rápida não se resolve de imediato. Tratar é uma transição. Não se iludam, mas não desistam”, completa.
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